Campanha ‘Janeiro Branco’ completa dez anos de existência em prol da saúde mental

02/01/2024 12h39 - Atualizado em 02/01/2024 12h47

“Saúde mental enquanto há tempo! O que fazer agora?” É o tema de comemoração dos dez anos de existência da campanha intitulada “Janeiro Branco”. O movimento, que teve início em 2014 na cidade de Urbelândia, Minas Gerais, pelo psicólogo e, atualmente, presidente do Instituto Janeiro Branco (IJB), Leonardo Abraão, tomou proporções nacionais e até internacionais e conta com o apoio de instituições públicas e privadas. 

A importância dos cuidados com a saúde mental é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e vem ganhando cada vez mais lugar nos espaços de discussão sobre políticas públicas de saúde. Para a vice-presidente do Instituto Janeiro Branco e também psicóloga, Valéria Ribeiro, falar de saúde mental é falar de todas as outras coisas, pois estar com a saúde mental organizada, ter condições emocionais e subjetivas para funcionar no mundo é fundamental.

“Uma das mais valiosas riquezas do ‘Janeiro Branco’ é colocar em circulação conteúdos e informações sobre saúde mental, orientando indivíduos e instituições sociais em todos os lugares e espaços nos quais a campanha chega fazendo diferença nas vidas das pessoas”, ressalta Valéria Ribeiro. 

Como reconhecimento de que o bem-estar emocional interfere em todas as áreas da vida, além de serem implementadas políticas públicas dedicadas à cultura dos cuidados com a saúde mental, com atendimentos individualizados e atitudes institucionais voltadas à qualidade de vida, foi aprovada, no dia 25 de abril de 2023, a Lei nº 14.556, que institui oficialmente a campanha “Janeiro Branco” em todo o território nacional. Antes disso, centenas de municípios e praticamente todos os estados brasileiros, inclusive o Espírito Santo, já tinham promulgado leis institucionalizando o “Janeiro Branco”.

“Este ano é a primeira campanha já com a lei em vigor. O fato de o movimento virar leis municipais, estaduais e lei federal só prova a necessidade, a legitimidade e a potência de uma iniciativa totalmente dedicada à construção de uma cultura da saúde mental na humanidade, um presente do Brasil para o mundo, agora, inclusive, reconhecido e multiplicado pelos estados brasileiros”, destaca o psicólogo Leonardo Abraão. 

Ações locais

O Governo do Espírito Santo apoiará ações alusivas ao “Janeiro Branco” previstas em diferentes municípios. No município de Muniz Freire, na microrregião Caparaó, a programação incluirá ações culturais, corrida de rua amadora e torneio de futsal, entre outras atividades que visam ao benefício da saúde mental. Para isso, as equipes multiprofissionais do Programa Estadual de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (Qualifica-APS), do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação (ICEPi), que já atuam na região, vão auxiliar na promoção da conscientização sobre questões relacionadas ao cuidado e à prevenção dos transtornos mentais, assim como incentivar pessoas a buscarem ajuda psicológica quando necessário.

“Nossa função é tratar a pessoa como um todo. Se ela está com o emocional adoecido, por exemplo, o físico também adoece e a estrutura ao redor dela também. Então, é de extrema importância nós atuarmos em conjunto”, explica a psicóloga Maria Cristina Zanetti, que faz parte da Equipe Multiprofissional de Muniz Freire.

Em Iúna, a prefeitura organizará ações nas Unidades Básicas de Saúde, também com o apoio das equipes do ICEPi. Segundo a psicóloga da equipe multiprofissional Rayanne Ferreira, a equipe colabora para a prevenção e a promoção no cuidado da saúde mental da população, auxiliando o usuário a voltar o cuidado para si, buscando o autoconhecimento. “A equipe realiza psicoeducação sobre saúde mental e emocional, mostrando como cada área, apesar de seu conhecimento específico, pode contribuir com outras áreas profissionais e, assim, auxiliar o usuário. É muito importante essa troca do saber”, avalia a psicóloga. 

A coordenadora da residência médica de psiquiatria do ICEPi, Maria Amélia Pedrosa, explica que os residentes são orientados a olhar o paciente de uma maneira global, contextualizando e atuando de maneira multidisciplinar em vários aspectos, que vão além dos sintomas. “Vínculos sociais, condições clínicas, hábitos de vida; tudo isso, influencia o estado de saúde mental”, ressalta a médica.

Segundo a psiquiatra, os cuidados em saúde mental requerem três grandes pontos de atenção: o fornecimento do tratamento para aqueles que já apresentam sintomas, a psicoeducação para os que ainda não têm agravos e o combate ao estigma relacionado à saúde mental. “Saúde não é só ausência de doença. Um dos grandes pilares da saúde é promovê-la, gerando mudanças nos hábitos do dia a dia, como a garantia da segurança alimentar, a prática de exercícios físicos, boa qualidade de sono, estabelecer vínculos sociais e ter uma rede de apoio. Ou seja, a integralidade do cuidado”, comenta Maria Amélia Pedrosa. 

Sintomas e tratamento

O Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental do mundo, segundo o último relatório anual de Estado Mental do Mundo, que inclui 64 países. No Espírito Santo estima-se, com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), que 25% da população convive com algum tipo de transtorno mental, ou seja, cerca de 950 mil pessoas. 

Identificar os sinais e buscar orientação nem sempre é tão simples, mas é essencial perceber os sintomas e procurar ajuda profissional.

“É importante lembrar que cada pessoa é única e os sinais podem variar. Além disso, a presença de alguns desses sintomas não significa, necessariamente, um transtorno mental específico. Se alguém estiver preocupado com sua saúde mental ou com a de alguém que conhece, é aconselhável procurar a orientação de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra”, explica o idealizador do “Janeiro Branco” Leonardo Abraão. Ele deixa um alerta para os seguintes sintomas: 

  1. Mudanças de humor extremas: oscilações frequentes entre extremos de humor, como tristeza intensa, irritabilidade ou euforia excessiva; 
  1. Isolamento social: retraimento social, evitando interações sociais ou retirando-se de atividades que costumavam ser apreciadas; 
  1. Alterações no sono: insônia, hipersonia (dormir em excesso) ou padrões de sono irregular; 
  1. Mudanças no peso ou hábitos alimentares: perda ou ganho significativo de peso sem uma razão aparente, ou mudanças marcantes nos hábitos alimentares; 
  1. Fadiga constante: sentir-se constantemente cansado, sem motivação ou energia; 
  1. Dificuldades de concentração: problemas para se concentrar, tomar decisões ou realizar tarefas cotidianas; 
  1. Autoestima baixa: sentimentos persistentes de inadequação, baixa autoestima ou autocrítica intensa; 
  1. Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio: pensamentos persistentes sobre a morte, morrer ou ideação suicida; 
  1. Mudanças no desempenho no trabalho ou na escola: dificuldades significativas no desempenho acadêmico ou profissional; 
  1. Aumento no consumo de substâncias: uso excessivo de álcool, drogas ou outros comportamentos de evasão; 
  1. Irritabilidade: sentimentos frequentes de irritação, raiva ou hostilidade desproporcional às situações; 
  1. Sintomas físicos sem causa aparente: dores crônicas, dores de cabeça ou outros sintomas físicos persistentes sem explicação médica; 
  1. Dificuldades nos relacionamentos: problemas recorrentes nos relacionamentos interpessoais, seja em casa, no trabalho ou socialmente; 
  1. Preocupação excessiva: preocupações constantes, ansiedade generalizada ou ataques de pânico; 
  1. Comportamentos autodestrutivos: participação em comportamentos de risco, autolesão ou abuso de substâncias. 

Onde procurar ajuda

Atualmente, existem no Estado 43 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), pontos estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), que são referência no tratamento para pessoas adultas com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros. Três deles são mantidos pela Secretaria da Saúde (Sesa): Caps Cidade, localizado no Centro Regional de Especialidades (CRE), em Cariacica; Caps Moxuara (Cariacica); e o Caps Cachoeiro (Cachoeiro de Itapemirim). Os outros 40 Caps são geridos pelos municípios com recursos do Ministério da Saúde. 

Os Caps são unidades de saúde comunitárias e acessíveis, compostas por equipes multiprofissionais que trabalham de maneira interdisciplinar. Priorizam o atendimento a pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades relacionadas ao uso de álcool e outras drogas em sua área geográfica. Esses serviços intervêm tanto em situações de crise quanto nos processos de reabilitação psicossocial. 

No Caps Cidade, cerca de 332 pessoas recebem acompanhamento anualmente. O Caps Cachoeiro monitora, aproximadamente, 400 usuários, enquanto o Caps Moxuara atende a 278 pessoas. Esses serviços oferecem acompanhamento periódico, conforme o Projeto Terapêutico Singular (PTS), incluindo sessões individuais e coletivas. 

É essencial que pessoas com sintomas não aguardem melhorias sem a orientação de um profissional de saúde. Recomenda-se procurar atendimento na Unidade Básica de Saúde local para acompanhamento pela equipe de Saúde da Família e, se necessário, encaminhamentos para atendimento especializado nos Caps. 

Caso haja um surto psiquiátrico, é necessário chamar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) para encaminhamento ao serviço de urgência e emergência mais próximo, garantindo assim o atendimento necessário.

 

Informações à Imprensa:

Coordenadoria de Comunicação em Saúde – Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi)

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